Mirando
no FGFR3 no interior do condrócito
A inibição da atividade do receptor
do fator de crescimento de fibroblasto do tipo 3 (FGFR3)
na acondroplasia (ACH) pode restaurar, ao menos parcialmente,
o crescimento ósseo, o que pode prevenir as
complicações ortopédicas comuns que a maioria das
crianças afetadas sofrerá durante a infância e,
consequentemente, pode também reduzir as
complicações esqueléticos e neurológicas muito
conhecidas comumente vistas na vida adulta.
No último
artigo, fizemos uma breve revisão de potenciais
abordagens visando a inibição do FGFR3 para reduzir a
sua atividade na ACH, fora do condrócito. Vamos começar
a mergulhar no condrócito, olhando onde mais podemos
interferir no FGFR3 hiperativo.
Interceptadores
transmembrana
A
primeira parada que iremos fazer é dentro da membrana
celular, a capa que protege o conteúdo da célula e
funciona como um portão. Como você deve lembrar, o FGFR3 é
posicionado através da membrana celular de condrócitos. O
FGFR3 é constituído de três partes, chamadas domínios
extracelular, transmembrana, e intracelular. Vamos dar uma
olhada no domínio transmembrana.
Quando o FGFR3 é
ativado por um FGF, atrai outro receptor e os
dois FGFR3s formam o que é chamado de dímero. Os
corpos de ambos os receptores se alinham de forma
a permitir a exposição dos sítios de ligação de
fosfato (os bolsos de ATP) mencionados em um artigo anterior),
que são como tomadas elétricas. Esses plugues elétricos
são aqueles que irão iniciar a cascata de sinalização
do FGFR3.
É possível
desenvolver compostos capazes de impedir o alinhamento do dímero.
Estas moléculas têm sido chamadas de interceptadores transmembrana. O
conceito é usar a propensão que as
enzimas receptoras (como o FGFR3) têm de atrair uma a outra
para formar o dímero. Pode-se construir uma cadeia de
aminoácidos, que chamamos de peptídeo, com a mesma composição e
atratividade do domínio transmembrana do receptor. Este
peptídeo poderia então ser usado como concorrente
do receptor real. Se o receptor ativado se liga ao peptídeo,
não pode atingir a configuração correta para ativar os
plugues elétricos e permanecerá sem sinalizar para o interior da
célula. Experimentos conceituais já foram realizados com um
modelo de FGFR3 pelo grupo da Dr. Kalina Hristova, um
dos pesquisadores que têm dedicado grandes esforços
para entender o FGFR3 e suas características biológicas,
veja aqui. Para mais informações técnicas, há uma
boa revisão publicada na revista Science
Signaling.
A pesquisa com esses
"interceptadores" ainda está no começo, mas há alguns aspectos
positivos nesta potencial abordagem: é provável que um peptídeo direcionado
para domínio transmembrana do FGFR3 seria muito específico, não teria que
entrar na célula e sofrer com os mecanismos de defesa celular e, talvez tivesse
o tamanho correto para alcançar os condrócitos através da placa de crescimento.
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