Estamos seguindo o receptor de fator de
crescimento de fibroblasto do tipo 3 (FGFR3) para identificar onde é possível
interferir em sua atividade para contrabalançar os efeitos negativos que esse
receptor produz na acondroplasia.
Nós exploramos a extremidade
extracelular (domínio) do receptor, onde aptâmeros poderiam ser desenvolvidos
para bloquear o sítio de acoplamento dos FGFs. Atravessamos a membrana
plasmática para ver o que chamamos de domínio transmembrana onde pequenos peptídeos,
aos quais denominamos interceptadores transmembrana, poderiam ser criados para
impedir a formação do dímero.
Nós também aprendemos sobre como fechar
as áreas ativas do FGFR3 em seu domínio intracelular com drogas específicas, os
inibidores de tirosinoquinase (TKIs). Fechar os plugues elétricos do FGFR3
pelos TKIs interromperia toda a cascata de sinalização elétrica/química. A
conseqüência esperada é que os condrócitos seriam capazes de proliferar mais,
amadurecer (hipertrofiar) e dar espaço para o osso, restaurando um crescimento
ósseo normal (ou quase normal).
Agora, vamos descer na cascata de
sinalização do FGFR3.
Podemos pensar na cascata de
sinalização do FGFR3 como uma cadeia de dominós. Quando a primeira peça é
empurrada contra a segunda, a fila inteira seguirá, com uma peça caindo atrás
da outra, como em uma reação em cadeia. No nosso caso, o FGFR3 é a primeira
peça da fila e uma vez ativado ele ligará outras peças do dominó (enzimas).
Agora, pense no que aconteceria se retirássemos uma ou duas peças do meio da
cadeia de dominós. O sinal iniciado pelo FGFR3 não alcançaria seus alvos no
núcleo da célula, dessa forma não causando os efeitos pelos quais ele é
responsável.
Na última década, pesquisadores têm
aprendido como o FGFR3 influencia o crescimento ósseo através do bloqueio do
que eles acreditavam serem as suas cascatas de sinalização. É dessa maneira que
hoje sabemos quais são as enzimas relevantes para o FGFR3. Veja a revisão
escrita pelo Dr. Horton para ver uma figura que mostra a cascata de
sinalização do receptor.
Simplificando bastante, nós poderíamos
descrever uma das cadeias mais relevantes do FGFR3 assim:
FGFR3 > FRS2a/SOS/Grb > Ras
> Raf > MEK > ERK/p38 > Núcleo
A outra cadeia importante é mais curta:
FGFR3 > JAK > STAT1
> Núcleo
Cada um dos acrônimos acima representa
uma enzima (ou, por analogia, uma peça do dominó).
Em teoria, poderíamos parar a
sinalização do FGFR3 bloqueando qualquer enzima nessa cadeia de dominós. Testes
têm sido realizados com diferentes métodos de inibição de enzimas e os
resultados confirmam a relevância dessas enzimas para o crescimento ósseo. Por
exemplo, um estudo
demonstrou que a inibição de ERK1 e ERK2 restaurou o crescimento ósseo e
resgatou o estreitamento do canal espinhal em um modelo animal.
Quanto mais alta a posição da enzima na
cadeia de dominós, mais amplo seria o efeito de seu bloqueio. Por outro lado,
quanto mais baixo na cadeia, mais específico seria o efeito de se retirar a
peça do dominó.
Contudo, inibir enzimas na cascata de
sinalização do FGFR3 não é tão simples. As enzimas que respondem ao FGFR3
reagem também a vários outros receptores, incluindo outros FGFRs (revisto em um
texto prévio). Em outras palavras, existe um risco de que ao bloquear, por
exemplo, a enzima RAF, nós nos depararíamos com efeitos secundários devido ao
bloqueio da sinalização desses outros receptores. Isto certamente não seria
desejável em uma criança com o corpo em crescimento. O risco existe porque
apesar do FGFR3 ser produzido de forma praticamente exclusiva pelos
condrócitos, as outras enzimas da cadeia de dominós são produzidas por muitas
outras células em outros tecidos. O que aconteceria se nós déssemos um anti-ERK
para tratar ACH? Que tipo de efeitos em outras células e, por extensão, em
outros tecidos e órgãos do corpo nós poderíamos esperar?
Em uma criança
com acondroplasia tudo está normal, com exceção de uma única proteína
(FGFR3) produzida por um único tipo de célula (o condrócito), localizada em um
tecido muito especial (a placa de crescimento cartilaginosa). Somando todo
conhecimento hoje disponível sobre o FGFR3 e suas funções, parece fazer mais
sentido que atinjamos o FGFR3 diretamente, do que outras enzimas de sua cascata
de sinalização.
Em resumo, nós revisamos nesta série de
textos onde poderíamos interferir na função do FGFR3 para reduzir sua atividade
de um modo que poderíamos restaurar, ao menos parcialmente, o crescimento dos
ossos. Até este momento, existem pelo menos três diferentes estratégias
potenciais: os aptâmeros, os interceptadores transmembrana e os TKIs. Em termos
do estado de desenvolvimento o mais promissor hoje são os TKIs.
Temos trabalhado na enzima FGFR3, a
partir do momento em que ela é ativada na membrana celular. É possível
interferir com a produção do FGFR3? No próximo artigo vamos visitar o núcleo do
condrócito e procurar por oportunidades onde poderíamos obstruir a produção do
FGFR3 mutante. Se a enzima alterada não é produzida, não pode parar o
crescimento ósseo.
No comments:
Post a Comment