No último artigo,
começamos a rever um complexo controle do funcionamento celular que alguns
fragmentos distintos de RNAs exercem. Esses chamados RNAs não-codificantes
(ncRNAs) podem regular quanto será criado de uma determinada proteína ao
interferir na sua produção, um fenômeno chamado interferência de RNA (RNA interference,
RNAi). Os cientistas também chamam essa habilidade de silenciamento
de gene (gene silencing), porque impede um gene ativo de dar origem à
proteína que ele codifica. Existem várias classes destes RNAs reguladores
capazes de interferir na produção de proteínas, tais como os micro RNAs (miRNA)
e os pequenos RNAs de interferência (small interfering RNA, siRNA), que
descrevemos muito brevemente, que quando acoplados a um complexo de proteínas
chamado RISC, ligam-se a um RNA mensageiro (mRNA) e provocam a sua degradação.
RNAs feitos pelo homem
Assim que os pesquisadores começaram a aprender que a máquina
genética era muito mais complicada do que os primeiros modelos desenhados lá
atrás nas décadas de cinquenta ou sessenta, quando o DNA foi descoberto, eles
perceberam que nós poderíamos criar nossas próprias moléculas feitas de código
genético, tanto de DNA quanto de RNA.
Os oligonucleotídeos
Moléculas de RNA artificiais são feitas de blocos de nucleotídeos
e a combinação de nucleotídeos em sequências específicas pode ser facilmente
executada no laboratório. Em teoria, se alguém quiser bloquear um
determinado mRNA, digamos que o mRNA que codifica a proteína receptor
do fator de crescimento fibroblasto 3 (FGFR3), é apenas o trabalho de
produzir a sequência correta de nucleotídeos que correspondem, ou
complementam, a sequência presente no mRNA do FGFR3.
Mas como poderia esta combinação parar a produção da proteína?
Vamos dar uma olhada em uma regra que toda a maquinaria genética segue: A leitura do gene é feita na direção 5' (dizemos cinco (five) prime) para 3' (três (three) prime). Estes números referem-se às posições dos átomos de carbono no anel de açúcar (uma ribose), que faz parte do nucleotídeo. Veja mais sobre isso aqui.
Quando os investigadores constroem uma molécula de nucleotídeos
olham para a mesma região do alvo natural dos ncRNAs, que está localizada no
final da sequência de mRNA sendo, por isso, chamados de oligonucleotídeos
antisenso. Oligo é uma raiz para poucos, e dessa forma
essa a palavra significa literalmente poucos nucleotídeos.
Precisamos de apenas de uma curta sequência de nucleotídeos para fazer a
tradução de proteínas parar. No entanto, a investigação sobre a
interferência de RNA tem sido muito criativa e não está limitada a este
mecanismo natural de ação. De fato, existem algumas terapias antisenso já
em estudos clínicos onde o oligonucleotídeo se liga a uma seção particular do
mRNA para produzir o efeito desejado. Por exemplo, há um oligonucleotídeo
antisenso sendo desenvolvido para o tratamento da distrofia muscular de
Duchenne, um tipo muito grave de malformação genética dos músculos, causada
por um defeito em uma proteína muito importante chamada distrofina (texto
com acesso livre). A molécula funciona ligando-se a uma parte específica
do mRNA imaturo da distrofina causando uma mudança na forma como ele é
preparado para a tradução, uma estratégia chamada salto de éxon (exon skipping).
Aptâmeros
Se você está acompanhando essa série de artigos, provavelmente vai lembrar dos aptâmeros. Aptâmeros são moléculas muito adaptáveis feitas de nucleotídeos. Mostramos que um aptâmero específico pode ser usado para se ligar ao domínio extracelular de FGFR3 e bloquear a ativação da sinalização do receptor. Bem, a capacidade destes oligonucleotídeos não está limitada a ligação às proteínas. Certamente, eles podem se ligar também a outras sequências de nucleotídeos, o que inclui, potencialmente, o mRNA do FGFR3, através da estratégia de antisenso. Estas duas aplicações potenciais dos aptâmeros na acondroplasia ainda estão esperando por um investigador interessado.
Finalmente, se fazer oligonucleotídeos é tão fácil, então o que estamos esperando? Vamos apenas produzir um oligonucleotídeo para se ligar ao mRNA do FGFR3 e tudo acontece: sem FGFR3, nenhum freio ao crescimento ósseo. Nós já temos exemplos de que isso pode ser feito, veja aqui.
Aptâmeros
Se você está acompanhando essa série de artigos, provavelmente vai lembrar dos aptâmeros. Aptâmeros são moléculas muito adaptáveis feitas de nucleotídeos. Mostramos que um aptâmero específico pode ser usado para se ligar ao domínio extracelular de FGFR3 e bloquear a ativação da sinalização do receptor. Bem, a capacidade destes oligonucleotídeos não está limitada a ligação às proteínas. Certamente, eles podem se ligar também a outras sequências de nucleotídeos, o que inclui, potencialmente, o mRNA do FGFR3, através da estratégia de antisenso. Estas duas aplicações potenciais dos aptâmeros na acondroplasia ainda estão esperando por um investigador interessado.
Finalmente, se fazer oligonucleotídeos é tão fácil, então o que estamos esperando? Vamos apenas produzir um oligonucleotídeo para se ligar ao mRNA do FGFR3 e tudo acontece: sem FGFR3, nenhum freio ao crescimento ósseo. Nós já temos exemplos de que isso pode ser feito, veja aqui.
O grande desafio
Existem várias potenciais abordagens para tratar um grande número de condições, incluindo a acondroplasia. O que está nos impedindo de usar um oligonucleotídeo antisenso para parar a produção de uma única proteína, o FGFR3, em um corpo vivo? O principal problema não é o de criar a molécula, mas de fazê-la chegar à célula alvo, o condrócito. Vamos rever o desafio da administração do medicamento no próximo artigo.
Você pode aprender mais sobre interferência de RNA lendo os artigos que mencionei no final do último artigo.
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